• Rio de Janeiro, 03/07/2025
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Jackson Vasconcelos

ESSA IMPRENSA…


ESSA IMPRENSA…

“Camarão que dorme a água leva”. Eu quase caí no logro da imprensa ao reagir mal à entrevista que o governador Romeu Zema, de Minas Gerais, deu à TV Folha. Eu deveria ter assistido no momento exato em que ela aconteceu, mas só soube dela pelas manchetes. Fábio Zanini e Juliana Arreguy entrevistaram o governador. Como a notícia da entrevista chegou a mim pelas redes: “Zema diz que existência da ditadura militar é questão de interpretação e promete indulto a Bolsonaro”; “Zema ignora história e desrespeita vítimas ao relativizar ditadura”. 

Imediatamente, lembrei-me da frase de Ulysses Guimarães: “Tenho ódio e nojo à ditadura”.

Fui, então, conferir a entrevista. Ela durou 40 minutos e o episódio em destaque aconteceu aos 22, depois que o governador relatou a viagem dele a El-Salvador e com base na experiência, ele deu uma aula de segurança pública. 

Zema escapou bem das primeiras tentativas dos entrevistadores de colocá-lo numa saia-justa e escorregou nos 22 minutos, quando nasceu o fato explorado por eles, pela imprensa e pelos palpiteiros das redes. Mas balançou e não caiu. 

O fato teve início com uma pergunta da Juliana: 

  • Governador, o senhor, caso saia candidato à Presidência e se eleja presidente…é…o senhor concederia indulto ao Bolsonaro? 
  • Não foi concedido indulto a assassinos e sequestradores aqui…durante o que eles chamam de ditadura? Né? Agora você não vai conceder…

Fábio entrou com ar de Muttley, da Corrida Maluca. Com um sorriso matreiro, um tanto  sarcástico de vitória, como quem diz: “finalmente, peguei o cara”: 

  • Do que eles chamam de ditadura? Por quê? O senhor não tem convicção de que foi uma ditadura? 
  • Não sei, eu não sou historiador, nunca me aprofundei. 
  • O senhor tem dúvida de que foi ditadura? 
  • Acho que não. 
  • O senhor acha que não ou o senhor não tem dúvida? 
  • Então, mas teve sequestradores, assassinos, etc, que tiveram anistia, não foi? Então, eu acho que temos que olhar para o futuro. Na minha opinião, quando você está fazendo política e só procurando atacar, diminuir seus adversários, eu acho que essa política prejudica muito o andamento da gestão. 
  • Governador, vou precisar esclarecer esse ponto para não ter um mal-entendido. Quando o senhor fala acho que não é, acho que não houve ditadura ou acho que não tenho dúvidas de que houve? 
  • Acho que tudo é questão de interpretação, Fábio. Eu acho que aí…
  • Mas qual é a sua interpretação, governador? Houve ou não houve ditadura? 
  • Eu prefiro não responder, porque acho que há interpretações distintas, né? E houve terroristas naquela época? Houve também. Então, fica aí. Acho que os historiadores é que têm de debater isso. Eu preciso me preocupar hoje, eu acho é que é com Minas Gerais…

Juliana entra: 

  • Mas, eu posso entender, então, que o senhor daria o indulto ao Bolsonaro? 

O governador movimenta-se na cadeira, visivelmente numa saia-justa e responde: 

  • Sim, daria. Daria sim…

A entrevista continuou em outra direção, mas com a intenção dos jornalistas de inquirir e não de entrevistar o governador Zema. Fábio e Juliana queriam como troféu uma manchete polêmica e conseguiram. 

Assista a entrevista completa, eu sugiro. O mineiro é bom de fala; é sincero e está cada vez mais preparado para as armadilhas que uma campanha tem. 



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