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Jackson Vasconcelos

O RIO CHICO E O RIO DE JANEIRO

Imagem de Rio Chico
O RIO CHICO E O RIO DE JANEIRO Jackson Vasconcelos – 10 de junho de 2025

Em cada esquina, em cada caso, percebe-se que a maravilhosa cidade perde o brilho. Vejam só. Um bom amigo meu, empresário, descobriu há pouco tempo que os imóveis que tem em Realengo não servem mais para garantir um contrato de aluguel de um espaço para onde deseja mudar a empresa. Até bem pouco tempo, serviam. O que houve? Certamente, a desvalorização em razão do local, onde o crime ocupa espaços rapidamente. Os proprietários dos imóveis destinados ao aluguel e desejados por meu amigo, não dizem isso, não explicam o motivo da rejeição, mas simplesmente não aceitam os imóveis como garantia. 

Lembrei-me de uma das madrugadas que a insônia transforma a leitura numa companhia inseparável e única, quando encontrei na BBC News Mundo a matéria: “O Paraíso na Venezuela onde ninguém quer morar, mesmo com casas quase grátis. Durante décadas, Rio Chico foi um paraíso perfeito para férias. O lugar fica na costa caribenha, onde muitos venezuelanos iam para descansar e se desconectar da agitação da cidade. Agora está explodindo em criminalidade. A região era repleta de vilas turísticas e praias incríveis, com casas elegantes sempre ocupadas por turistas. Hoje, as casas estão abandonadas.”

A matéria ouviu o senhor Fernando Valera, um dos poucos que comprou uma casa no município de Rio Chico e reluta em sair. Ele explica: “Há uma casa que está sendo vendida por 3 mil dólares, pois a maioria dos proprietários simplesmente as abandonou.  O crime ameaça quem se atreva a vir para cá. Existem muitas propriedades disponíveis aqui, mas ninguém as deseja.” 

Canales de Rio Chico, um empreendimento da década de 1970, inspirado nos condomínios exclusivos de Miami e outros locais costeiros dos Estados Unidos, onde os proprietários das casas de luxo podiam levar seus barcos até a entrada de suas casas, está quase em completo abandono. Ali foram construídos cursos de água, cais e até um campo de golfe, antes de a situação começar  a mudar drasticamente em 2013, ocasião em que o governo venezuelano iniciou um processo de negociação com dezenas de gangues de criminosos para promover seu desarmamento e reintegração social. O governo criou o programa “Quadrantes da Paz”, territórios nos quais, em troca da promessa de abandono da violência, o Estado deixaria de perseguir os criminosos e forneceria recursos para que fossem economicamente viáveis sem precisar cometer crimes. 

As áreas dedicadas ao programa logo se tornaram um refúgio para as gangues. Os proprietários não envolvidos com o crime sofreram pequenos furtos e depois, sequestros, assassinatos, a cobrança de taxas de segurança e pedágios. Instalou-se o cotidiano do medo. É comum ver fuzis e roupas militares como indumentárias dos criminosos. O local é símbolo de um Estado, ora ausente, ora brutal. 

Não preciso dizer muito mais para mostrar o enorme risco que correm as áreas ainda valorizadas no Rio de Janeiro, locais em que uma parte da sociedade carioca vive imaginando-se segura, por acreditar-se nobre. A cada manhã – a cada clarear do sol – ao sair às ruas, os cariocas ainda protegidos por câmeras, grades, carros blindados, são abordados pelo crime e deixam a vida seguir em frente. É hora de dar o tranco, já que daqui a pouco teremos a oportunidade de mandar de volta para casa aqueles que deveriam evitar a nossa angústia diante do crime. Gente bem paga para fazer esse trabalho.   



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