Sérgio Cabral
Servidor Público

A demonização do serviço público é pauta de alguns partidos e políticos não só no Brasil, como em diversos países do planeta. Para essas correntes de pensamento o servidor público é o barnabé que consome os recursos públicos e atravanca a economia e o desenvolvimento.
Entretanto, basta estudar a história dos países e regiões exitosos para se verificar exatamente o contrário. Todos os casos de sucesso passam pela presença do poder público e a sua capacidade de atender a população nas suas necessidades básicas, assim como seu papel alavancador do crescimento econômico e justiça social.
Recomendo o livro "O Estado Empreendedor", da ítalo-americana-britânica Mariana Mazzucato. Ela é professora de Economia da Inovação e Valor Público na University College London (UCL) e diretora fundadora do Instituto de Inovação e Propósito Público da UCL (IIPP). Ela é mais conhecida por seu trabalho sobre as dinâmicas da mudança tecnológica, o papel do setor público na inovação e o conceito de valor na economia. A revista The New Republic a chamou de uma das "pensadoras mais importantes sobre inovação".
Nessa obra, a pensadora explora o papel histórico do Estado no desenvolvimento tecnológico, principalmente nos Estados Unidos. Sem a presença do governo norte-americano no investimento da pesquisa básica, não teríamos a atual miríade da tecnologia da informação. O mesmo se aplica em países diversos como a Coreia do Sul ou a Estônia.
O mesmo conceito do papel do Estado pode ser aplicado aqui no Brasil, por exemplo, no êxito da Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-Pecuária, a Embrapa. Sem ela, nossa agricultura não teria o destaque e a importância que adquiriu no comércio internacional. Seus profissionais e pesquisadores foram e são vitais para o desenvolvimento tecnológico em todos os segmentos agrícolas. A empresa mantém parcerias com diversos setores, como universidades, instituições de pesquisa, empresas privadas e organizações. A sua produção de conhecimento é compartilhada com nossos produtores rurais. Sem a Embrapa, não seríamos a potência agrícola com enorme destaque no cenário internacional.
Não tenho um pensamento estatizante nem privatista. Mas sim o caminho do meio, o mais difícil e complexo, o que atrai menos paixão e exige mais racionalidade. Por exemplo, é óbvio que a privatização da Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN, assim como da Vale, eram necessárias; como também a privatização da Embraer. No entanto, sem a iniciativa do Estado, elas jamais seriam o que são hoje. Foi o Estado que as criou e as impulsionou em momentos estratégicos para o país.
Por outro lado, desde a pesquisa básica à segurança pública, o Estado é insubstituível. E para isso, o servidor público é peça fundamental nessa engrenagem, para promover bem estar, justiça social e desenvolvimento econômico.
Fui o governador que mais realizou concursos públicos na história do estado. Na educação foram mais de 40 mil vagas para professores, na segurança pública dobramos o número de profissionais, na receita estadual promovemos diversos concursos públicos, depois de décadas. O INEA, Instituto Estadual do Ambiente, foi criado pelo meu governo e promoveu o primeiro concurso público do meio ambiente na história no estado. Você acredita que o Detran teve seu primeiro concurso no meu governo?
O sucesso do Rio em nosso período, 2007-2014, está intrinsicamente vinculado à valorização do servidor público. Claro, que para isso, obtivemos o primeiro grau de investimento (investment grade) de um estado subnacional na América do Sul, concedido pelas agências internacionais de risco Standard and Poors e Ficht. Sem equilíbrio econômico-financeiro seria impossível. Pois, como diz a letra do genial Noel Rosa: "com que roupa eu vou ao samba que você me convidou?"
*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho
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