Sérgio Cabral
Novo Maracanã

Hoje, o estádio de futebol mais famoso do mundo completa 75 anos: o Maracanã. Tenho muito orgulho de ter feito a grande obra de reforma e modernização do Maracanã, inaugurada em abril de 2013.
Tivemos que fazer um novo estádio mantendo o anel superior do velho estádio, exigência feita pelo Iphan, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Brasileiro e, ao mesmo tempo, cumprir todas as exigências da Fifa, a Federação Internacional de Futebol.
O caderno de encargos da FIFA, cujo objetivo é tornar os estádios de futebol equipamentos dignos e confortáveis e, ao mesmo tempo, de visibilidade plena para os espectadores, inviabilizava o estádio para qualquer competição internacional. Todas as obras anteriores de reforma foram pífias.
Assumi o governo em janeiro de 2007 com a responsabilidade de concluir uma obra que havia sido paralisada no governo anterior, que não permitiria ao estádio competir por eventos internacionais da Fifa, mas que atenderia aos Jogos PanAmericanos previstos para agosto daquele ano, no Rio. Claro que foquei na conclusão da obra. Mas com a certeza que era mais uma das reformas parciais que o estádio havia sofrido desde a sua inauguração, em 16 de junho de 1950.
Em janeiro de 2008, em Zurique, na sede da Fifa, o Brasil conquistou a sede da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014. Com a obrigação de tornar os seus estádios capazes de receber os eventos. Em outubro de 2009, o Rio conquistou a sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Tínhamos muito trabalho pela frente.
E o maior desafio estava posto para a minha equipe, liderada pelo engenheiro Ícaro Moreno, então presidente da Emop, a Empresa de Obras Públicas do Estado: reformar e modernizar o Maracanã, tendo que manter o anel da parte superior, tombado pelo Iphan, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Brasileiro. Imagine, cara leitora, caro leitor, ter que refazer todo o estádio, desfazer-se da cobertura, verticalizar todos os assentos e, ao mesmo tempo, manter o anel superior por exigência de tombamento do patrimônio histórico?
Durante as obras, que começaram em 2011 e foram até junho de 2013, recebemos dezenas de delegações de engenheiros, estudantes de engenharia e especialistas do mundo inteiro, impressionados com o que estávamos realizando no Rio de Janeiro, isto é, fazer um novo estádio preservando o seu anel superior. Fui a Londres para a inauguração de Wembley. Lá, eles demoliram o velho estádio de 1923, e construíram um novo.
A cobertura do Maracanã foi demolida, tendo em vista a sua deterioração estrutural ao longo das décadas e por não cobrir 70% dos torcedores. Em seu lugar, uma cobertura tensionada com tecnologia alemã com uma membrana hiper sofisticada, que passou a cobrir de verdade mais de 90% dos espectadores.
A arquibancada do velho estádio foi condenada pela Fifa como imprópria. Havia centenas de pontos cegos. Além da sua própria configuração de cimento extremamente desconfortável. Demolimos a velha estrutura, verticalizamos a nova de acordo com os padrões da Fifa e, obviamente, colocamos cadeiras, cujas cores dão um lindo efeito, ao lembrar a nossa bandeira.
O novo estádio ganhou centenas de câmeras e um centro de monitoramento e controle. Uma nova drenagem do gramado foi feita. O espectador mais próximo do campo está, hoje, a 10 metros de distância. O escoamento do estádio é feito de maneira dinâmica e rápida, graças aos novos acessos. Na acessibilidade aos PCDs nem se fala. Era impossível frequentar o velho estádio.
A iluminação era uma tragédia. Hoje ela permite, inclusive, a customização das cores do clube anfitrião da partida. Os placares com telas super modernas foram instalados. A estrutura para a imprensa trabalhar é outra. Os vestiários dos atletas e dos árbitros nem se comparam com o passado. Os camarotes são disputadíssimos pela sua qualidade. Cerca de 280 banheiros foram construídos. Quem frequentou o velho estádio, lembra bem do que eram os banheiros do Maracanã…
Enfim, poderia fazer diversos artigos sobre a façanha de fazer em menos de três anos o Novo Maracanã. Mas o que mais toca a minha memória é lembrar dos trabalhadores da obra. A empolgação com que se dedicavam. O aprendizado com os profissionais estrangeiros contratados. Chegamos a ter 7 mil trabalhadores no pico da obra. Eram muitos idiomas falados entre técnicos e engenheiros que faziam o suporte de tecnologias compradas da Alemanha, Espanha, Suíça, entre outros países. No dia da inauguração do novo estádio, num jogo festivo entre o time do Bebeto e outro do Ronaldo Fenômeno, nossos convidados especiais foram os trabalhadores da obra e suas orgulhosas famílias. No dia da inauguração oficial pela Fifa, precedendo a Copa das Confederações, o jogo foi Brasil x Inglaterra (na inauguração de Wembley foi Inglaterra x Brasil). Marcante foram os comentários da imprensa internacional, embasbacada com o novo estádio.
Ontem, foi dia de voleibol no Novo Maracanãzinho, também nosso legado. Mas isso é pra outro artigo. Hoje, é dia de celebrar os 75 anos do estádio mais incrível do planeta.
*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho
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