• Rio de Janeiro, 02/09/2025
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Jackson Vasconcelos

Bom domingo ao som de Beethoven.

Jackson Vasconcelos é cientista político
Bom domingo ao som de Beethoven.

“Muitos seres humanos precisam cultuar alguém ou alguma coisa, mas a escolha desse objeto fala mais da pessoa que cultua do que do objeto cultuado” (Harvey Sacks). Boa lembrança para esses tempos sombrios de culto à personalidades histéricas. 

Ao citar Harvey Sacks, eu proponho a você dedicar algum tempo neste domingo a Beethoven. Que tal? 

A frase que cito sobre a necessidade humana de cultuar alguém ou alguma coisa está no livro “A Nona Sinfonia - A obra-prima de Beethoven e o mundo na época de sua criação”. Eu o li tendo a Nona ao fundo, sob a regência do argentino Daniel Barenboim, ele, assim como Beethoven, fez a sua primeira apresentação aos 7 anos de idade. Diabos de adultização! rs. 

A última notícia que tenho do maestro, de fevereiro deste ano, é o anúncio que ele fez de estar com Parkinson com o aviso de que continuará em atividade enquanto suportar. O poder de cura da música é divino! Beethoven compôs a Nona com surdez absoluta. Como se explica o desempenho do maestro João Carlos Martins? 

Para estímulo à leitura do livro de Sachs, antecipo que ele compartilha e comenta o “Testamento de Heiligenstadt", escrito por Beethoven, aos 28 anos de idade, ocasião em que ele já sofria a perda progressiva da audição - um golpe devastador! Escrito para os dois irmãos dele, Carl e Johann, o testamento nunca foi entregue a eles ou a qualquer outra pessoa. Só está no conhecimento do público por ter sido encontrado entre os papéis do compositor, após a morte dele. É uma belíssima carta para uma dolorida leitura. Com a Nona no fundo, meu Deus!  

O caminhar no livro nos leva à resposta de Beethoven a uma menina que lhe enviou um bilhete com elogios: “Não prive Handel, Haydn e Mozart de suas coroas de louros. Eles as merecem, mas eu ainda não mereço nenhuma.(...) Persevere, não se limite a praticar sua arte, buscando também entender o seu significado íntimo; ela merece esse esforço. Pois só a arte e a ciência podem elevar os homens ao nível dos deuses. O verdadeiro artista não tem orgulho. Ele percebe, infelizmente, que a arte não tem limites. Tem uma vaga consciência da distância que ainda o separa de sua meta; e, embora possa ser admirado pelos outros, lamenta ainda não ter chegado ao ponto em direção ao qual seu melhor gênio serve apenas para iluminar o caminho, como um sol distante” 

Harvey relata e mostra que entre 1803 e 1813, Beethoven compôs em apenas uma década uma quantidade impressionante de obras que permanecem entre as mais tocadas do repertório clássico. No mesmo período, outros grandes nomes também produziram: Hegel escreveu suas conferências em Jena (que deram origem à Fenomenologia do Espírito), Goethe lançou a primeira parte de Fausto, Schiller compôs Guilherme Tell, Byron publicou os primeiros cantos de Childe Harold’s Pilgrimage, além de obras de Milton e Blake circularem.

No entanto, nenhuma dessas criações — nem mesmo o Fausto de Goethe — alcançou, em sua área, a mesma presença e peso que as obras de Beethoven tiveram na música. Essa produção foi tão marcante que ajudou a consolidar a imagem do compositor como um gênio tempestuoso, repreendendo o destino “com o punho cerrado”, lançando seus “raios musicais” sobre a razão iluminista e paixão romântica no início do século XIX.

Deixo com vocês o convite para que leiam o livro de Harvey e atendem ao mesmo tempo para o que diz o poema de Schiller, presente no quarto movimento da Nona Sinfonia, um “Ode à alegria”, hino oficial da União Européia: 

“Abraçai-vos, milhões de seres!” 



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